quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

É possível reverter comportamentos do autismo na fase adulta

Cientista da Universidade de Coimbra, Patrícia Monteiro, é uma das autoras do trabalho publicado na Nature

Um estudo internacional, no qual participou a investigadora portuguesa Patrícia Monteiro, da Universidade de Coimbra, demonstrou pela primeira vez que é possível reverter, já em idade adulta, alguns comportamentos ligados ao autismo, e reparar os correspondentes circuitos neuronais.
O estudo, que foi feito em ratinhos e abre a porta ao desenvolvimento de novas terapias para o autismo, é publicado hoje na revista Nature.
Patrícia Monteiro não tem dúvidas, esta descoberta "é um passo de gigante". "Nós próprios ficámos surpreendidos quando verificámos a mudança no comportamento dos animais, porque sendo esta uma doença que afeta o desenvolvimento, seria de pensar que uma vez passada essa fase, já não fosse possível qualquer reversão de comportamento", afirmou ao ao DN.
Afinal não é assim. Para alguns dos comportamentos do autismo, como os das interações sociais, foi possível produzir uma mudança positiva nos ratinhos. "Conseguimos reverter as deficiências de comunicação e alguns comportamentos associados", explica a cientista, que participou no estudo integrada no grupo de Guoping Feng, no MIT, Estados Unidos, enquanto investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra.
Para outros parâmetros, como a ansiedade e a fraca coordenação motora associadas à condição de autismo, não foram, no entanto, observadas melhorias. Seja como for, os resultados mostram que "o cérebro é muito mais plástico ao longo da vida, em alguns circuitos e comportamentos, do que se pensava", sublinha a cientista portuguesa.
Para estudar esta questão, a equipa coordenada por Guuoping Feng utilizou ratinhos em que o gene Shank3, que se sabe estar associado a uma forma de autismo, foi manipulado para produzir essa condição nos animais.
Depois, quando os ratinhos se tornaram adultos, os investigadores voltaram a manipular a expressão desse gene para verificar se havia mudanças no seu comportamento e circuitos neuronais correspondentes - nesta forma de autismo há uma comunicação deficiente entre os neurónios no córtex e numa zona chamada estriado, localizada nos gânglios de base do cérebro.
A surpreendente resposta foi que sim, o que abre novas hipóteses de intervenção terapêutica no futuro, nomeadamente através de tecnologias de reparação genética ou de novos medicamentos.
O autismo ligado a mutações no gene Shank3 representa 1% de todos os casos de autismo. Em Portugal estima-se que, para todas as formas de autismo a prevalência seja de um caso para cada mil crianças em idade escolar.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Quase um terço dos professores do básico e secundário estão em burnout

Inquérito do ISPA revela que a percentagem de professores que se sentem exaustos e sem sentimentos de realização profissional é superior à registada noutros países

Um estudo realizado com cerca de mil professores de escolas portuguesas revelou que 30% dos docentes estavam em burnout, ou seja, exaustos emocionalmente e sem qualquer sentimento de realização profissional. Durante três anos - entre 2010 e 2013 - uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) inquiriu cerca de mil docentes que davam aulas a alunos do 2.º e 3.º ciclos mas também do ensino secundário.
O objectivo era perceber se existiam muitos docentes em stress ou burnout e, no final, descobriram que 30% dos professores estavam nesta situação, revelou à Lusa a investigadora do ISPA responsável pela coordenação do estudo, Ivone Patrão. "Esta percentagem fica um pouco acima dos números habituais registados nos outros países, que rondam entre os 15 e os 25%", sublinhou a psicóloga clínica.
A percentagem de docentes com sintomas de burnout é muito superior à registada entre o conjunto de trabalhadores. Um estudo recente realizado pelo Barómetro de Riscos Psicossociais deu conta que o número de trabalhadores com sintomas de esgotamento subiu em 2014/2015 para 17,3%. Em 2013 eram 15%.  
Em relação aos docentes, o inquérito do ISPA dá conta que a maior parte dos que apresentam sintomas de burnout são mais velhos, têm vínculo à função pública e dão aulas no ensino secundário, acrescentou a responsável, explicando que a média de idades dos inquiridos é de 49 anos. O estudo, divulgado nesta terça-feira, revela ainda que existem entre 20 a 25% de docentes que sofrem de stress, ansiedade e depressão.
"O bem-estar dos professores é considerado essencial para o sucesso de todo o projecto educativo. Tendo em conta todas as mudanças sociais e políticas, oburnout começa a ser um problema social de extrema relevância", sublinhou a especialista, lembrando que este problema representa exaustão emocional e falta de realização profissional.
A psicóloga salienta o facto de todos estes docentes estarem no activo quando responderam ao inquérito, o que representa um risco muito elevado com a relação que se estabelece com os alunos e com a aprendizagem. O burnout afecta não só o professor, mas também o contexto educacional, uma vez que o mal-estar sentido pode originar problemas de saúde, perda de motivação, irritabilidade, aumento dos níveis de absentismo e abandono da profissão, o que pode interferir na realização de objectivos pedagógicos.
Para a especialista, falta formação contínua e oferta formativa que permita aos docentes ter ferramentas para saber como lidar com situações de conflito em sala de aula. Segundo a investigadora, estes professores "não se sentem satisfeitos com o seu trabalho nem com o sistema educativo tal como ele estava quando foram inquiridos".
Ivone Patrão sublinha que os resultados do estudo não são representativos da realidade que se vive entre os docente, mas pela sua experiência clínica "é possível perceber que o burnout é uma prática constante".
O estudo será apresentado nesta terça-feira na Assembleia da República, durante uma conferência promovida pela Federação Nacional de Professores (FENPROF).
Público, 2 fevereiro 2016

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Peça "Estradas de Xadrez", que junta pessoas com e sem deficiência, em cena no Porto



A peça "Estradas de Xadrez", que junta atores com e sem deficiência, regressa hoje a cena, no Porto, para abordar a loucura, contou a encenadora da companhia, que recentemente venceu um prémio internacional de Inclusão Social na Arte.
Integrado na Associação do Porto de Paralisia Cerebral (APPC), o grupo "Era uma vez... Teatro" já produziu ao longo de 18 anos de existência mais de três dezenas de peças, entre as quais a "Estradas de Xadrez", que hoje, sábado à noite e domingo à tarde, estará em cena na Fundação Escultor José Rodrigues, no Porto.
A partir de "Diário de um louco", de Nikolai Gógol, a peça centra-se na existência solitária e no amor visceral pela vida e, conforme descreveu à agência Lusa a encenadora Mónica Cunha, o espetáculo fala de causas sociais, do amor, do individualismo, da loucura.

Fonte: LUSA