A edição de 2015 do concurso de expressão literária e artística “Palavras Sol Tas” recebeu trabalhos de quase 150 de alunos do 1.º ciclo ao ensino secundário, com necessidades educativas especiais (NEE).
Escreveram pequenas narrativas, poemas e fizeram ilustrações reunidas agora em livro. A ideia partiu de um grupo de professores bibliotecários: promover a leitura e os livros entre os alunos com NEE do concelho de Gondomar através do incentivo à escrita e ao desenho.
Depois, foi preciso envolver a Câmara Municipal, a Biblioteca Municipal, a Rede de Bibliotecas Escolares e os professores de Educação Especial dos dez agrupamentos e escolas não agrupadas do concelho de Gondomar. O resultado foram 134 trabalhos compilados numa obra onde se pagina a arte literária dos autores. “Palavras Sol Tas - Contos, Poemas, Desenhos”, espelha o empenho dos participantes. Por isso, todos saíram vencedores. Os prémios foram entregues numa cerimónia que decorreu a 2 de junho no Pavilhão Multiusos de Gondomar.
O projeto, cujo principal objetivo é incentivar a produção literária e artística, existe há uma década. Ainda que só este ano tenha envolvido os alunos com NEE. As edições anteriores têm feito correr muita tinta, como revela João Carlos Brito, um dos professores bibliotecários responsáveis pela organização. Mais de 10 mil textos poéticos, 10 livros publicados com os melhores trabalhos produzidos por cerca de mil alunos. Constituem indicadores para uma boa avaliação do “Palavras Sol Tas”. Que, tudo indica, terá continuidade nos próximos anos.
Além do que os números contabilizam, o professor identifica outros sinais que confirmam a importância destas iniciativas: “Basta ver a alegria dos miúdos a subir ao palco para receber o prémio e sorriso quando vêm os seus trabalhos publicados.” De um ponto de vista mais técnico, a opinião dos psicólogos escolas e dos coordenadores da Educação Especial é consensual e diz que “o projeto desenvolve aptidões e contribui para a autoestima”.
“São crianças com diferentes níveis de desenvolvimento e todas têm de lutar muito, por isso, mesmo as pequenas vitórias são muito importantes”, argumenta João Carlos Brito. Apesar de “ser uma gota de água” a participação em iniciativas do género, “pode ter um impacto muito positivo no futuro dos alunos e das suas famílias”.
Mais atenção às NEE
A pergunta impõe-se: Há falta de projetos envolvendo os alunos com NEE? “Não só em Portugal, mas em muitos países da Europa, a Educação Especial, em termos históricos, é uma realidade muito recente, pelo que é natural que as escolas não estejam preparadas para responder a estas necessidades”, começa por responder João Carlos Brito.
No âmbito de uma pós-graduação, João Carlos Brito prossegue uma investigação para saber até que ponto as Bibliotecas Escolares estão preparadas para proporcionar igualdades de oportunidade de leitura e escrita a todos os alunos. Especialmente, aos que revelam NEE. Até agora, resume, “os resultados obtidos foram relativamente satisfatórios”.
No entanto, há sempre mais do que uma leitura sobre a realidade. “Um otimista diria que as escolas começam a aproximar as bibliotecas escolares e os livros a todos os alunos. Um pessimista diria que ainda estamos muito longe do ideal”, adverte o professor, “a começar pela existência de algumas barreiras físicas”, acrescenta.
Por outro lado, a colocação de professores de Educação Especial nos últimos anos, “é demonstrativo de algum interesse do Ministério da Educação e Ciência (MEC) por esta área”, constata João Carlos Brito. “Ainda há um longo caminho, mas este faz-se caminhando”, conclui.