A grande questão da Inclusão é de que forma podemos diversificar a
oferta educativa de forma a que todos os alunos de uma turma e de uma
escola possam beneficiar da fantástica riqueza de se relacionarem com
pessoas diferentes.
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Quando se faz a análise do percurso que Portugal fez no campo da
educação de alunos com condições de deficiência temos que ficar
agradados com o resultado deste esforço continuado durante mais de 40
anos. Hoje, Portugal é um dos países mais avançados do mundo no capítulo
da educação dos alunos com condições de deficiência. Neste capítulo,
Portugal optou por fazer cumprir uma das recomendações mais constantes e
frequentes feitas pelas organizações internacionais: esta educação deve
ser feita em meios educativos inclusivos. É fácil encontrar um consenso
sobre a vantagem que têm os alunos com dificuldades em serem educados
ao lado dos seus colegas com menos dificuldades: é evidente que o
desenvolvimento da pessoa se potencia quando ela frequenta meios mais
diversos e mais estimulantes. A grande questão da Inclusão é de que
forma podemos diversificar a oferta educativa de forma a que todos os
alunos de uma turma e de uma escola possam beneficiar da fantástica
riqueza de se relacionarem com pessoas diferentes. Por isso se diz que
uma escola que se mantenha imperturbável nas suas práticas e nos seus
valores mais tradicionais, não pode ser uma escola inclusiva: só a
alteração sensível das suas formas de ensinar, de aprender, das suas
estratégias, da organização da classe, da avaliação, etc. conduzem à
aproximação aos valores inclusivos. E dizemos “só” por uma razão
simples: a escola não foi criada para ser inclusiva, mas sim seletiva,
não foi criada para construir conhecimento, mas sim para o reproduzir,
não foi criada, enfim, para ser para todos, mas só para alguns.
A
mudança da escola sempre parece difícil ou mesmo impossível. Na verdade,
há até “peritos em impossibilidade”. São pessoas que constroem o seu
discurso para ver se provam que é inútil e ingénua qualquer tentativa de
mudar a escola. Se a mudança é proposta pelos alunos diz-se “mas o que é
que eles sabem de Educação?”, se a mudança é sugerida pelos
professores, diz-se “são interesses corporativos”, se a mudança vem das
gestões “é porque lhes interessa a eles e só a eles”, se a mudança vem
de estruturas ministeriais “não serve de nada inovar por decreto”. Estes
“peritos em impossibilidades” para tornar ainda mais eficaz o seu
discurso, acabam por desvalorizar e por menosprezar todas as tentativas
que eles consideram parciais por não levarem em conta todos os fatores
implicados.
Não iludamos a questão: a mudança da escola é mesmo
difícil. A lista é longa mas o certo é que as sociedades moldaram e se
moldaram à escola que têm. Quando tentamos mudar a escola
confrontamo-nos com um grande conjunto de variáveis que, estando certas
ou erradas, que estavam adequadas à vida, às expectativas das crianças e
das suas famílias. Talvez por este motivo seja tão difícil mudar a
escola: por vezes parece que se está a tirar tijolos da base com
esperança de mudar o cume da torre.
Há talvez três aspetos que
temos constatado que podem originar e manter mudanças nas escolas dado
que não se espera, como diriam os nossos “peritos em impossibilidades”,
uma vaga revolucionária que transformasse radicalmente a escola
tradicional para uma escola para todos, isto é, inclusiva.
A
primeira questão diz respeito às funções dos Conselhos Pedagógicos das
escolas. Em muitas escolas estes conselhos (órgão mais nobre da
escola) são órgãos burocráticos e de “gestão corrente”. Pelo contrário,
há escolas no nosso país em que os Conselhos Pedagógicos se assumiram
como órgãos de discussão e de inovação das práticas e dos valores da
escola. Não se limitam., por exemplo, a examinar o que lhes é proposto,
mas avançam em muitos casos com propostas que permitem levar inovações
adiante.
Outra questão que poderia influenciar esta mudança é a
intensificação da vida dos Departamentos. Os Departamentos também eles
se tornaram em grande medida, órgãos de “cumprir calendário”, órgãos de
dar informações, acertar datas e prazos. É inestimável o papel que os
Departamentos podem assumir na gestão flexível do currículo e na
proposta de iniciativas que dinamizem a escola para poder ser uma escola
útil para todos. Temos numerosos e bons exemplos destas possibilidades.
David Rodrigues, in Publico
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